25/06/2021 14h30 - Atualizado em 25/06/2021 14h41

Métricas, pra que te quero?

É bem verdade que a pandemia transformou a forma como trabalhamos em muitos aspectos. Se você não está hoje home office, talvez o trabalho híbrido seja a sua realidade. A mudança radical pela qual estamos passando nos últimos dois anos nos fez repensar e acelerar muitos projetos de transformação, que estavam apenas previstos e sem estimativas, para a classe urgente.

 A futuro do trabalho envolve tecnologia, revisão de processos, inovação, novas formas de interação e principalmente uma revisão cultural. Se fizermos uma análise, vamos constatar que desafiar o status quo não é tarefa simples.

A revisão cultural não envolve apenas parte da organização. É um processo sistêmico que vai mudar de forma significativa a forma como produzimos e principalmente como vamos medir o que estamos fazendo. Se você não consegue medir seu trabalho quando era ainda era feito de forma presencial, também não conseguirá medir de forma remota. As métricas de produtividade se tornaram fundamentais para a qualidade do trabalho e a manutenção da entrega de valor.

A relação humano-máquina, intensificada por meio da automação e da digitalização irá se ampliar. O Fórum Econômico Mundial projeta que, até 2025, as horas de trabalho realizadas tanto por máquinas quanto por pessoas serão exatamente iguais. Neste sentido o desafio será repensar a forma como reportamos nosso trabalho e o que estamos fazendo, que as máquinas ainda não fazem dada a evolução dos nossos sistemas.

A flexibilidade oferecida pelo trabalho remoto, jornada flexível e muitas vezes uma comunicação assíncrona requer maior transparência entre o gestor e sua equipe. A sensação da perda de controle é real e pode ser um entrave para a transformação. As cobranças podem ser maiores e desnecessárias. Para sermos mais produtivos não é necessário trabalhar muito e sim trabalhar com mais inteligência.

A fixação pelas métricas passa pela crença de que é possível e desejável substituir o julgamento, adquirido por experiência pessoal e talento, por indicadores numéricos de desempenho. Outra crença presente em nossas organizações é de que a melhor maneira de motivar as pessoas é atribuindo recompensas e penalizações ao seu desempenho medido.

Acontece que nem tudo que é importante é mensurável, e muito do que é mensurável não é. A maioria das organizações tem múltiplos propósitos, e aquilo que é medido e recompensado tende a se tornar o foco de atenção, em detrimento dos demais objetivos essenciais. Quando as organizações atentam para o fato de que aquilo que estão medindo é insuficiente, elas tipicamente adicionam mais medidas de desempenho - o que cria uma cascata de dados, estes que se tornam cada vez menos úteis, enquanto coletá-los é um verdadeiro esforço que usa cada vez mais tempo e recursos.

Se você exige a cada mês que seu time seja mais rápido, a tendência é certamente o negligenciamento das métricas, de tal forma que uma tarefa que levaria 2 horas seja estimada em 4 para que o time falsamente possa fazer o dobro do trabalho na metade do tempo. O foco passa a ser atingir o número, independente se o que está sendo feito precisa realmente ser feito.

Os dados que coletamos devem nos permitir agir. Precisamos dar significado ao dado e inseri-los em um contexto mais amplo. Sem uma história que possa representar os números, caímos em um vazio sem interpretação. 

O importante ao definir métricas de produtividade é o equilíbrio. Envolva seu gestor e tenha em mente que você não acertará na primeira tentativa. Métricas são dinâmicas e encontrar as medidas certas vai depender da natureza do seu trabalho. Se sua atividade for processual,  medir o tempo de fluxo ou quantas instâncias o processo acontece por mês, pode ser mais fácil do que medir atividades em Laboratórios de Inovação, por exemplo.

Métricas devem ser usadas para evoluir o processo e não para gerar cobranças e comparações destrutivas. O problema não é medição, mas a medição excessiva e inadequada - não são as métricas em si, mas a fixação por elas.

Embora estejamos fadados a viver na era da medição, vivemos na era da medição incorreta, sobredimensionada, enganosa e contraproducente.

 

Rodrigo Zambon é Servidor Público do Governo do Estado do Espírito Santo. Atualmente está no Escritório de Projetos da Secretaria de Recursos Humanos. É especialista em Agilidade e Transformação Digital.

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